Mercado Indie Brasil - Entrevista com Felipi Arena
- Bernardo Slack e Natalie Peon
- 3 de mai. de 2017
- 5 min de leitura
Dando sequência em nossa série de entrevistas com os desenvolvedores indies do mercado nacional, hoje entrevistamos Felipi Arena que já é criador de diversos jogos e hoje atua como freelancer.

Qual a sua formação educacional/profissional?
R.: Sou formado em Ciência da Computação com 6 anos no ramo de desenvolvimento de jogos, 4 anos como programador, 2 como produtor e programador. Tive a oportunidade de estar envolvido em vários jogos que me orgulho muito, inclusive jogos licenciados de Dragonball Z e Cavaleiros do Zodíaco.
Como começou sua carreira em jogos?
R.: Aceitando qualquer tipo de proposta que envolvesse jogos. Há uns anos, as oportunidades eram ainda mais raras, era necessário conhecer alguém do meio para ingressar nele ou ter um grupo de amigos para montar sua própria empresa. Então escolhi como orientador de projeto final um professor que tinha bastante envolvimento na área de jogos com um network extenso e ele sempre me indicava para as vagas disponíveis. Comecei depois de formado com prestações de serviços para empresas de jogos e daí segui adiante.
Qual foi o primeiro jogo que criou e como foi essa experiência?
R.: O primeiro jogo foi no meio acadêmico ainda, uma disciplina optativa de games na faculdade. O único contato que tive com desenvolvimento de jogos na minha formação, aliás. Foi uma bagunça, horroroso. Saiu um jogo de nave 3D completamente genérico com assets todos remendados. Ainda assim, o processo foi extremamente divertido e eu não sentia como se aquilo fosse um trabalho em nenhum momento. Reafirmou que aquela era a área certa pra mim.
Hoje em dia, com um olhar mais maduro e profissional, como enxerga esse jogo?
R.: Sobre qualquer ótica aquele primeiro jogo era uma bagunça. Sobre a minha ótica imatura e amadora da época já era uma bagunça [Risos].
Quais as principais dificuldades enfrentadas na carreira de jogos desde o começo até hoje?
R.: Sustentabilidade é uma das principais dificuldades. Até algumas empresas que lançaram cases de sucesso acabaram fechando as portas. No geral as pessoas têm essa visão “hobbista” e apaixonada da área de games e não enxergam a necessidade de um planejamento profundo e bem estruturado para se viver disso. É necessário estar num negócio rentável para que nos mantenhamos nele. Mas ganhar dinheiro quase nunca está conectado a fazer as coisas que você mais gosta de fazer na área de jogos, ou aos projetos que você mais curte.
Qual a dica para as pessoas que querem ingressar no mercado de games?
R.: Não espere oportunidades, é muito pouco provável que elas apareçam. Comece estudando sozinho, escolhendo a sua área de ação e se envolvendo em Game Jams, projetos próprios, faça coisas que aumentem e melhorem seu portfólio. Quanto maior seu portfólio e quanto mais pessoas você conhecer maior a probabilidade das oportunidades surgirem.
Você se autodenomina desenvolvedor freelancer. Como é a experiência de não estar vinculado a uma empresa/estúdio e o que isso reflete em seu processo de criação de jogos?
R.: Não ter vínculo contratual te dá uma falsa impressão de mais liberdade na escolha de projetos em que você quer se vincular, mas essa liberdade de fato só ocorre caso a demanda para o seu tipo de serviço seja muito alta. No final, você tem que pagar as contas do mês e seu filtro de aceitação de trabalhos vai se tornando cada vez menor conforme as contas não vão batendo. Afetar o processo de criação vai sempre depender do cargo que você ocupa e do tipo de serviço que você está prestando. Algumas prestações de serviços em freelance acabam sendo até mais amarradas que alguns projetos empresariais. No geral, a diferença mais notável (e óbvia) vai sempre ser menos segurança na renda em troca de mais liberdade.
Qual a estratégia de marketing que você crê ser a mais eficiente para o lançamento de um jogo?
R.: Não tenho tanta experiência com marketing, mas se puder dar um conselho quanto a isso é que se contrate alguém especializado para essas funções. Fazer um jogo bom por si só não é garantia de que o jogo vai ser um sucesso de vendas. Contar com uma divulgação orgânica do seu jogo é contar com um fator de sorte muito grande, a não ser que se tenha pessoas bastante influentes nas diversas mídias envolvidas com o jogo. Ao meu ver, a melhor estratégia de marketing é ter uma equipe que desempenhe a função de divulgação do projeto, relações públicas, community management etc. e que essa equipe planeje para cada caso uma estratégia que seja mais eficiente.
Em nosso bate-papo você abordou assuntos como a importância de buscar profissionais especializados em atividades que não dominamos para alcançar o sucesso de um jogo, os desafios do processo de criação e a experiência em observar o playtest de variados perfis de público.
Gostaria de deixar este espaço livre para você falar diretamente com o nosso público – desenvolvedores de jogos, pessoas interessadas no mercado em geral e familiares que querem entender melhor o mundo em que seus filhos estão imergindo. Escreva à vontade:
R.: Quando falamos de querer trabalhar com jogos, primeiro devemos refletir em qual parte desse mundo se quer estar imerso. Gostar de jogar jogos nem sempre é um indicativo confiável de que você vai gostar de criar jogos. Existem carreiras hoje em dia pra quem gosta só de jogar, todo esse ramo de e-sports está ganhando visibilidade e estímulo da mídia.
Mas se o interesse for realmente no processo criativo, pesquise bem as diversas áreas e núcleos da produção de um jogo. Arte, roteiro, narrativa, produção, código, som. São muitas áreas e por mais que alguns profissionais no ramo indie de desenvolvimento absorvam diversas dessas funções ao mesmo tempo, às vezes até por limitação orçamentária, o ideal vai sempre se ter especialistas desempenhando cada papel.
Tenha paciência, aprenda tudo que puder com os mais experientes, respeite muito a visão dos especialistas de cada área, lembre-se de que eles estão nessas funções por um motivo. Você muito provavelmente não vai começar criando seus próprios jogos ou liderando equipes. A maior parte do tempo no começo você não vai estar trabalhando com o que gosta ou com o que planejava quando entrou nesse ramo. Mas essa etapa é muito importante pro seu desenvolvimento como profissional, então aproveite e tome conhecimento de todo o processo de confecção de um produto e de toda a sinergia que as diversas áreas devem ter entre si para que o resultado final seja algo coerente e de boa qualidade. Absorva tudo à sua volta para que quando você partir em sua própria empreitada não haja arrependimentos de que você não fez o melhor possível.
Sofremos bastante nesse ramo, mas no final acaba quase sempre valendo a pena.

<<< Se você ainda não viu a nossa primeira entrevista com Tarcísio Michels da BrasilSoft Games, clique aqui e confira tudo o que rolou.
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