top of page

Por quê esse jogo é o melhor de todos os tempos

  • Bernardo Slack
  • 15 de mar. de 2017
  • 9 min de leitura

The Legend of Zelda: Ocarina of Time é considerado pelos maiores especialistas, desenvolvedores e jogadores, o melhor jogo de videogame de todos os tempos. Hoje vamos falar de alguns aspectos emocionais que fizerem esse jogo ser tão impactante e tão reconhecido.

Recomendamos a leitura deste post com essa trilha sonora de fundo:

>>> Este post contém spoilers sobre o jogo.

Ao iniciar a fita, o jogo apresenta uma cena de Link, o protagonista, montando Epona, sua incrível égua, cavalgando pelos campos de Hyrule. As cenas são lindíssimas, mostrando um grande potencial explorado para a Nintendo, especialmente pelas limitações tecnológicas da época. Zelda era mais que um sandbox, era uma imersão completa num novo mundo, um universo paralelo perfeitamente desenhado.

Ao iniciar a jornada, o player tem a possibilidade de escolher qualquer nome para o protagonista. Nessa tela foi muito comum ver que cada um usou ou seu nome próprio ou um apelido com o qual se identificava. A sensação nesta etapa foi clara de imersão. Oferecer ao seu jogador a possibilidade dele escolher o nome não se trata apenas de algo estético, mas de conexão e identificação. O jogador não interpreta o jogo como se fosse aquela personagem, mas ele se sente de fato que aquele personagem é ele, ou seja, uma inversão dos papéis. E isso faz toda a diferença para o que vem a seguir.

O jogo começa com a cena em que Link sofre de um pesadelo onde ele, sem saber, prevê um futuro sombrio para Hyrule. Zelda é perseguida por Ganondorf. Nessa etapa o jogador já conhece o vilão principal e percebe o calafrio causado pela impotência de Link ao vê-lo cavalgar pelo portão principal.

A cena é interrompida quando Navi, a fada de Link, o acorda. Nesse momento o jogador já percebe uma variação de cores e sons. A trilha sonora de Zelda é das mais fantásticas que já foram criadas para jogos e envolve o jogador inteiramente. Não há como fugir do que a Nintendo quer que você sinta naquele momento e isso funciona perfeitamente.

O processo evolutivo de Link é claro e ao mesmo tempo do jogador, ou seja, enquanto novas habilidades são absorvidas, podemos perceber também as mudanças estéticas. O protagonista acessa novas áreas e aprende coisas novas.

Como Koster traduz em seu livro “A Theory of Fun for Game Design”, traduzir padrões em forma de aprendizado é a parte divertida dos jogos e nesse quesito Ocarina of Time é espetacular. Uma das especialidades da Nintendo é ensinar de maneira intuitiva, sem tutoriais, ou longos textos explicativos, ou seja, apresentam um cenário seguro em que o jogador pode experimentar a nova habilidade sem que isso gere algum tipo de perda ou game over. Em seguida são impostos novos desafios que penalizam o fracasso e assim evolutivamente.

<<< Veja nestes posts como preparar jogos mais intuitivos e divertidos.

The Legend of Zelda propõe ao jogador a sensação de ser um herói. O Ator é mudo e não há texto que venha dele, justamente para que a sua personalidade não entre em conflito com a do player. A Nintendo utiliza muito esta técnica em diversos de seus jogos de RPG justamente com a intenção de ampliar a possibilidade de imersão e envolvimento do jogador com o protagonista.

Ao abrir qualquer tipo de baú existe uma criação de expectativa. Novamente, a trilha sonora te posiciona em forma de espera de acordo com o prêmio, o visual do baú te antecipa o que pode estar dentro e a dificuldade para alcançá-lo é a forma mecânica de traduzir essas sensações de esforço por recompensa.

Ao se aproximar de algum inimigo uma trilha é tocada, geralmente como numa cena de batalha, mas sem que mude a cena em que o jogador se apresenta. Zelda sempre foi um RPG de ação, então a característica não só é mantida, como também é dinâmica, correspondendo a liberdade do jogador de encarar aquilo ou sair correndo. A música, indiretamente, impõe-lhe uma tomada rápida de decisão.

Quando Link desbrava os três primeiros grandes desafios e consegue os minerais sagrados, ele vê seu sonho se tornar realidade e Zelda ser perseguida pelo vilão. O jogo, de uma maneira fantástica deixa claro que o jogador não tem a menor chance de encarar o vilão com apenas uma cena dele lançando uma energia que expele Link para alguns metros longe. Nessa hora a Nintendo diz “Você precisa ficar mais forte!”.

O jogador consegue a Ocarina do Tempo jogada no rio pela princesa. Aqui um dos passos para a evolução é atingida. Esse novo instrumento é capaz de produzir sons ainda mais poderosos e é capaz de levar Link para uma área secreta dentro do Templo do Tempo. Ao conseguir a Master Sword. O protagonista viaja no tempo e vê as consequências da sua ausência. O primeiro impacto é incrível de ver a sua expressão mais séria e sua aparência física mais imponente. O jogador pensa “Chegou a hora, seu Ganondorf palhaço. Eu vou caçar você!”..

O jogador sai do templo confiante e cheio de si, mas o que ele vê a sua frente é só destruição e terror. Todos os cidadãos estão mortos ou transformados em zumbis. O mundo está ruindo e tudo o que ele viu quando criança perdeu sua cor, sua alegria e ele, tanto o personagem, quanto o jogador, sentem um aperto no peito. Aquilo é a motivação certa, na hora certa, para o jogador sair correndo enfurecido para salvar a quem ainda pode e o mundo.

Pausa para esperar o arrepio passar...

<<< Veja nossos posts sobre a criação de “cavernas”

O jogo segue com desafios mais sérios e assustadores. Link agora é um adulto e tudo o que ele enfrenta faz sentido. A possibilidade de voltar e avançar no tempo é um refúgio para matar a saudade de alguns habitantes e ao mesmo tempo a solução de alguns quebra-cabeças. Isso, intrinsicamente faz o jogador a todo o momento se deparar com as consequências daquela crueldade imposta pelo vilão. Você vê nitidamente o antes e o depois de todos os lugares e isso te dá muitos motivos a mais para continuar se tornando mais forte. Você não quer ser lançado para longe com sua bola energética de novo, você quer arrancar a cabeça dele. Faca na caveira!

Link vai ganhando força, o jogador vai ganhando habilidades e confiança e ao mesmo tempo o jogo vai se resolvendo. A cada música nova aprendida em sua Ocarina a imersão ganha camadas dentro do cérebro e o jogo vai penetrando o coração do jogador. É impossível encontrar um jogador que tenha jogado Zelda (principalmente na época em que foi lançado) que não ame o jogo.

Desafio lançado!

Encontre alguém que tenha jogado Zelda no N64 na época em que foi lançado até o final e que não tenha alguma nostalgia até hoje. Peça para essa pessoa te contar algo sobre o jogo e repare as suas expressões. Isso, meus amigos, é o que um jogo é capaz de fazer com uma pessoa.

Voltando...

A Ocarina é um instrumento tão versátil para os jogadores que não tardou para se divulgarem inúmeras trilhas possíveis de serem tocadas. Titanic, Simpsons e muitas outras. As pessoas começaram a trocar partituras e foi um dos primeiros jogos a gerarem uma viralização de conteúdo, o que na época era muito difícil por não existirem redes sociais e a internet ainda era pouco acessível.

Enquanto Link e o jogador desbravavam os novos templos, era perceptível uma conexão com os sobreviventes. Sem que o jogo traduzisse isso em texto, era sensível que o jogador os queria proteger. Estava se tornando capaz disso e isso seria feito. Você, o jogador, salvá-los-ia.

Enquanto tudo era tensão, o jogo soube variar diversos momentos com as suas possibilidades de gameplay. Existia o rancho onde Link podia cavalgar em disputas de corrida e habilidade com Epona, tinha a área de pescaria, mini games de precisão com o Arco e muitas outras sidequests carinhosamente preparadas. Todas para ajudá-lo a aliviar o estresse da sua busca implacável por Ganondorf assim como aumento da sua capacidade de derrotá-lo.

Ao se aproximar da batalha final, Link volta ao Castelo de Hyrule. Dessa vez ele está numa plataforma flutuante, envolvida pela mágica de Ganondorf, o que já se apresenta de maneira imponente. Link só o acessa graças a ponte criada pelos seis sábios (Vistos durante a viagem no tempo). Link mostra um passo de hesitação para conferir a resistência da ponte e em seguida o jogo libera a travessia.

Ao entrar no castelo o jogador se depara com todos os tipos possíveis de desafios já enfrentados em sua jornada até ali. Ele precisa desvendar quebra-cabeças tão árduos quanto poderiam ser e inimigos com as características com que já aprendeu a lidar. É a hora do teste final, é onde todo o seu estudo é posto à prova e, se passar, tem o direito de encarar o seu objetivo principal.

Conforme o jogador vai se aproximando do salão principal, o som do órgão de sua sala vai aumentando, gerando uma sensação de expectativa. A subida da longa série de escadarias vai preparando emocionalmente para o confronto. Em termos de mecânica a Nintendo oferece uma série de potes para recompor seu arsenal de itens gastos durante os puzzles até ali.

A partir de agora não há mais inimigos, mas sim uma alteração de cenário. As escadas não se parecem mais com as de um dungeon, mas de um verdadeiro castelo. Há um tapete vermelho, os vitrais são mais bonitos e chamativos. Ao abrir o último portão Link se assusta: ele está diante de Zelda aprisionada num cristal e abaixo Ganondorf toca a melodia que você ouviu até chegar ali.

Devido a sua chegada àquele local, a Triforce se assume reunida e as mãos dos três brilham de acordo com o triângulo correspondente. Era por isso que o vilão queria que Link chegasse até ali. Ele queria a sua presença para reunir a Triforce. A Navi indica que não poderá te ajudar devido a energia maligna emitida, ou seja, você terá que fazer tudo por conta própria.

O jogador sabe que está preparado para o desafio, mesmo que sua fada não o ajude. A batalha se desenrola de maneira interessante e até divertida com uma espécie de tênis em que o perdedor sofre uma descarga elétrica. Quando o embate se encerra, acontece uma questão interessante: o jogo faz pensar que a luta acabou e começa uma fuga do castelo. Inicia um contador regressivo que lhe impõe três minutos para conseguir escapar antes que tudo vá abaixo. Nesta etapa o jogador está com a adrenalina à flor da pele.

Zelda mostra sua importância ao acionar magicamente mecanismos liberando portas. Toda vez em que você sofre algum dano, ela se assusta. Para o jogador não achar que é apenas uma questão de fugir, precisa encarar alguns inimigos e a tensão da corrida contra o tempo faz com que a estratégia de combate vá para o espaço. Só se pensa em acabar logo com aquilo.

Quando finalmente Link e Zelda alcançam a saída do castelo, as torres desabam e todo o edifício entra em colapso. Os dois se olham aliviados de que tudo está acabado, Navi se desculpa por não tê-lo ajudado e aparentemente tudo está ok, contudo um barulho vem do meio dos escombros. Não há mais a ponte mágica, pontanto, quando volta o gameplay, o jogador se vê obrigado a checar de onde veio o som.

É importante destacar todas as sensações passadas por essa parte final do jogo. Veja, não se trata de bater em vários inimigos, nem de passar horas lutando e desvendando quebra-cabeças. O jogador já fez isso tudo até chegar ali. O Chefão é único, se o jogador tiver que dividir a atenção com essas distrações o Boss vai perder seu impacto, portanto, o único desafio são as coisas que ele lhe impõe: O primeiro combate, a fuga do castelo (imposta por sua dispersão energética que gerou a demolição) e a verdadeira batalha final. Reparem, tudo se trata do chefão final, tudo é o que ele impõe ao jogador. Ele é o teste final.

Em termos de experiência, essa luta é muito épica. Ganondorf assume uma forma monstruosa, a ilha está cercada por chamas, Zelda está de fora te assistindo, Navi endurece e diz que nada vai impedi-la de te ajudar e sua espada é lançada para fora do campo de batalha por uma investida de Ganon. Quando o gameplay começa, você está diante de um monstro sem sua principal espada: o que fazer? O jogo não te diz, apena Navi que assume sua cor amarela indicando o inimigo à frente e suas vulnerabilidades, apesar de ela dizer que não sabe, ela se posiciona exatamente onde se deve atacar, a Nintendo nunca dificulta realmente um combate.

<<< Veja aqui nossa série de posts sobre a criação de chefões.

Assim que Link se prova capaz de derrotá-lo, após algumas pancadas, o fogo perde a força a Master Sword pode ser recuperada. Ela é a espada símbolo desse jogo e só ela é capaz de derrotar o poder maligno de Ganon. É nessa hora em que Zelda mostra seu valor. Ela reúne todas as suas forças para enfraquecer o vilão e te dar a chance de finalmente finalizar aquele tormento. Os seis sábios finalmente podem entrar em ação e usar o seu poder para selar o demônio.

Portanto, no fim do game, todos os símbolos principais entram em cena. A espada, a magia de Zelda, a reunião da Triforce, os seis sábios e, por fim, a Ocarina do Tempo.

Zelda tem um final emocionante, dramático e que foge a maioria das obras de entretenimento. Os heróis estão no céu, literalmente, e ela justifica tudo o que aconteceu até ali e, como forma de desculpa e recompensa por seu sacrifício, envia Link de volta ao passado com seu poder da Ocarina. Ela agora é quem se sacrifica por ele.

O jogo encerra com créditos lindos mostrando todos os cenários e com a cena mais marcante da história, o primeiro encontro dos nossos heróis.

A Ocarina é, de fato, o maior instrumento de emoção, comoção e conexão do jogador com um jogo. Não existe uma maneira tão linda quanto ela. Até hoje é possível ver o impacto de suas trilhas na memória dos jogadores. O jogo, que está perto de completar vinte anos desde seu lançamento, é o maior marco da história dos videogames e ainda é capaz de promover experiências como essa:

The Legend of Zelda: Ocarina of Time toca o coração dos seus players.

<<< Veja outro post sobre a importância dos jogos para o desenvolvimento humano.

Comentarios


Procure por Tags

© 2016 by Bernardo Slack. Criado com Wix.com

  • LinkedIn - White Circle
  • Instagram - White Circle
  • Facebook - White Circle
  • YouTube - White Circle
bottom of page