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Todos os sentidos para o jogo perfeito

  • Bernardo Slack
  • 16 de mar. de 2016
  • 5 min de leitura

Recomendada a leitura de “Os pilares para construir o jogo perfeito” antes deste artigo.


Ao construirmos todas as principais bases para o desenvolvimento sólido de um jogo, precisamos rechear essa edificação com conteúdo de qualidade e que seja atraente para os players, portanto, vamos analisar, agora, os elementos principais para consolidar e fortalecer a estrutura dos quatro pilares (Metas, Regras, Sistema de Feedback e Participação Voluntária).


Em primeiro lugar, é fundamental reforçar que estamos falando de seres humanos, portanto, precisamos pensar na essência básica do que realmente nos oferece sensações de prazer e satisfação. Jinsop Lee aborda este tema brilhantemente em sua palestra sobre experiências multissensoriais.


Design for All 5 Senses | Jinsop Lee | TED Talks*



O gráfico de um jogo é geralmente o primeiro contato do player com o produto, justamente por ser uma etapa visual, portanto, é fundamental investir um tempo da produção em algo de qualidade e que tenha ligação com o seu objetivo. É importante alertar que um jogo não precisa ser “real” em termos de qualidade gráfica, precisa, apenas, ser coerente com a proposta. Quando tratamos de jogos offline, como jogos de tabuleiro, ou esportivos, a atração visual também é importante, ao mesmo nível dos jogos eletrônicos, claro, com as suas devidas limitações.


O segundo sentido que trabalhamos, em jogos, é a audição. Portanto, alinhar a trilha e os efeitos sonoros é substancial para além de convencer, aumentar a atenção do jogador ao trabalho que está realizando no jogo. Este atributo é capaz de emocionar o player, gerando experiências cognitivas marcantes a qualquer momento. Para jogos de tabuleiro, o som dos dados rolando sobre a mesa ou do impacto dos pinos enquanto se conta as casas em que se anda são ótimos exemplos de como detalhes sonoros podem fazer toda a diferença na experimentação de um jogo.


Os três últimos sentidos são mais complexos devido as limitações, ainda, sobre o terceiro ponto fundamental para um jogo de qualidade – a interatividade. Um dos atributos mais complexos no momento de se produzir um jogo é a capacidade de gerar envolvimento, ou seja, uma relação com o jogador.


Trata-se, cruamente, de um momento de conquista, em que o jogo usa de todos os seus charmes para flertar com o player, que, por sua vez, quer se envolver com algo que atenda às suas necessidades e expectativas. É vital para o desenvolvedor de jogos pensar no tato durante a prática. Por isso, as grandes fabricantes de consoles investem grandes esforços em estudos para criarem seus joysticks. O conforto e a sensação precisam ser um encaixe perfeito com as mãos dos seus usuários. Assim como a mecânica do jogo deve pensar em como o jogador interagirá com o jogo através daquele controle.


Já o olfato e o paladar são sentidos que ainda não abrangem qualquer tipo de experiência. Mas, em jogos da “vida real” é possível nos deparamos com essas situações em competições alimentares, por exemplo. São jogos, como outro qualquer, tendo suas regras, metas, recompensas e a inscrição voluntária de cada participante.


“O privilégio da vida é ser quem você é”

Joseph Campbell - Brilhante escritor do século XX


Em “O herói de mil faces”, Joseph Campbell escreve magnificamente os passos para a criação de um mito, de uma história, de uma lenda. Em seu livro, somos capazes de perceber como os principais contos do mundo, onde alguns até se tornaram religião, foram estruturados e o porquê se tornaram um enorme sucesso por milênios.


Para garantirmos que o jogo seja realmente vivido como uma experiência única e gratificante, o Game Designer precisa elaborar uma narrativa envolvente e que seja capaz de tornar cada meta tão, ou mais, sedutora que a anterior, garantindo um aprofundamento no relacionamento entre o jogador e o jogo, assim como as pessoas o fazem na vida real, tornando-se um conteúdo mais rico e interessante. Sendo assim, as pessoas podem ser, ao mesmo tempo, quem elas são e quem elas querem ser, viveciando experiências com o seu avatar no mundo virtual, ou com sua persona durante as atividades ao ar livre.


Como os jogos são basicamente entretenimento interativo, é essencial que trabalhemos a competitividade. Algoritmos que aumentam as dificuldades à medida em que jogamos são apenas formas de redefinir as metas e introduzir regras mais desafiadoras, contudo, se não existir um enriquecimento e qualificação dos desafios propostos, não adianta o jogo continuar com uma narrativa exuberante ao lado de gráficos e sons épicos, que a monotonia vencerá e todo o trabalho será deixado de lado em uma estante qualquer.


Todo o conjunto citado acima se agrupa como um ambiente (virtual ou “real”). Jogos multiplayer, ou para a multidão, podem tornar a experiência de jogar ainda mais imprevisível e prazerosa. Um diálogo muito comum, visto diariamente, são de pais que tentam estimular os filhos a deixarem suas atividades solitárias dentro de suas casas para se divertirem ao ar livre com mais amigos, ou quando jogadores declaram que preferem jogar online, contra amigos ou estranhos, do que contra a “máquina” offline.


Toda essa imprevisibilidade, ligada ao cenário virtual, ou uma situação “não real”, ou seja, um jogo, possibilita que nós vivamos experiências singulares e que “o mundo real” jamais seria capaz de nos oferecer. Portanto, para um ótimo desenvolvimento social, os jogos são capazes de servirem, também, com uma válvula de escape, uma rota de fuga, para nos aliviarmos do estresse diário, ou para nos possibilitarmos, também, sermos o herói de algumas histórias.



Como em qualquer esforço que realizamos, desejamos sentir, ver, perceber, uma recompensa, seja ela intrínseca, ou extrínseca, não importa. E esse sentimento é, além de perfeitamente natural, substancial para o sucesso de um jogo. Uma complexa métrica de pontuação torna o sistema de feedback mais motivador, garantindo, assim, que o jogador deseje sempre mais e mais.


E para fechar com chave de ouro o processo de produção de um jogo, é vital manter constantemente presente na mente do jogador a ideia de ganhar. Isto é, o jogador precisa perceber nitidamente que suas conquistas e sua evolução lhe oferecem ainda mais oportunidades de vivenciar o sucesso e de que, graças a sua dedicação, a recompensa lhe seja diretamente proporcional, assegurando um desfecho digno de aplausos de pé por quem o compartilhou por horas, dias, semanas ou até meses para o conquistar.


Importante!

Não dedique mais atenção exclusivamente a uma dessas partes. Trabalhe todas por igual. Um jogo não sobrevive só de gráfico, assim como também não só de mecânica. Todas as partes são cruciais e, se trabalhadas em conjunto, preenchem perfeitamente os requisitos para o jogo ideal.

Reflexões baseadas em “A Realidade em Jogo” de Jane McGonigal, “O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell e no “Design For All Senses” de Jinsop Lee.

* É possível alterar as legendas do vídeo para a língua portuguesa. Para isso, basta acessar a ferramenta no canto inferior direito e selecioná-la.

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